Eu por mim mesma!

Eu por mim mesma!
Voltei-me e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja, nem tão pouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor, mas que o tempo e a sorte pertencem a todos. (Eclesiastes 9:11)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Esperando na Janela

Quando me perdi
Você apareceu
Me fazendo rir
Do que aconteceu
E de medo olhei
Tudo ao meu redor.
Só assim enxerguei
Que agora eu estou melhor.
Você é a escada da minha subida,
Você é o amor da minha vida,
É o meu abrir de olhos do amanhecer,
Verdade que me leva a viver.
Você é a espera na janela,
A ave que vem de longe tão bela,
A esperança que arde em calor,
Você é a tradução do que é o amor.
E a dor saiu;
Foi você quem me curou.
Quando o mal partiu
Vi que algo em mim mudou
No momento em que quis
Ficar junto de ti
E agora sou feliz,
Pois lhe tenho bem aqui.


domingo, 7 de dezembro de 2014

A última lua cheia do ano





Ela olha pela janela e percebe a claridade evidente que emana através da vidraça embaçada pelo calor do seu desespero constante. Depois de tanto tempo sem escrever uma palavra sequer, ela volta a expor suas emoções em palavras e as mesmas jorram aos borbotões e seus dedos não dão conta de expressar tudo que transparecem por meio delas. Sua inspiração desaparece. Ela chora muito. Percebe que a vida a deixou amarga e sem esperança. Ela observa a claridade advinda de fora e abre a janela. É como se abrisse a janela para a vida, para as lembranças, para a saudade e o frescor da noite bate em seu rosto. Ela fecha os olhos e relembra com lágrimas nos olhos tudo o que já lhe ocorreu. Abre os olhos e vê a claridade da lua cheia no céu. Não só a lua cheia, mas a última lua cheia do ano.
Ela lembra que não gosta dos finais de ano, pois esses a deprimem mais ainda. Ela sempre está onde não gostaria de estar, sendo extremamente simpática, quando o que mais quer é sair gritando, para outro lugar, outro mundo, outras pessoas. Observando a lua cheia no céu, ela pensa no que deixou para trás e pensa em estabelecer novas metas para o próximo ano, mas percebe que essas serão praticamente infundadas, pois nunca consegue realizar tudo aquilo que planeja, por mais ínfimo que seja.
O vento frio bate em sua face lembrando-a de que ainda há esperança, mesmo que distante. Ela busca em seu íntimo a força que a move e a encontra. Dois seres que dormem na calmaria da noite, ressonando inocentes. O vento a acorda, pois ela já estava a cochilar com os cotovelos doloridos a apoiar o rosto cansado nas mãos, e sente que seu coração dói e a garganta arde com o choro preso.
Por fim, ela olha novamente a majestosa lua iluminando a noite e lembra dele. Ele. Ele sempre foi uma grande inspiração e ao mesmo tempo a sua dor mais profunda. Tantas pessoas já passaram por sua vida, já teve muitos homens aos seus pés, e já se apaixonou por alguns deles, mas ela sempre acreditou que amor existe somente um na vida e sempre enfatizou isso. Por isso, ela crê com lágrimas nos olhos, que não será capaz de amar novamente porque já amou intensamente uma vez na vida.
Ela resolve sair, abre a porta e senta na grama molhada pelo orvalho da noite. Areja a alma com o vento e o frescor da noite, e respira o ar puro que vem e está consciente de que jamais irá tê-lo novamente. Ele é o homem dos seus sonhos, o príncipe encantado de toda mulher. Ela nunca teve sorte com homens, pois sempre foi uma mulher muito carente, sonhadora e que gosta de mimos e carinhos e nem todos estão dispostos a isso. Talvez seja por não haver amor suficiente para tratá-la como merece. Sim! Como ela merece, pois já batalhou muito e sofreu demais.
Talvez sofra demais porque tenta achar em outros aquilo que só encontrou nele e isso a decepciona. Como foi seu único amor ela está ciente de que jamais encontrará alguém que a satisfaça e que preencha as lacunas deixadas pelo sentimento que havia por ele. Eles amaram-se intensamente, loucamente e eternamente! Ao menos era o que parecia. Ela percebe que mesmo sofrendo tanto, chorando tanto, tudo valeu a pena e viveria tudo novamente se tivesse chance de voltar no tempo.
Ela percebe que seu peito está molhado, olha para cima achando que está chovendo, mas não é a chuva que cai, e sim suas lágrimas de dor e desespero. Desespero por saber que em sentimento não se manda, coração não se governa. Ela só gostaria que sua vida fosse simples, sem pressa, sem vírgula, sem brigas, sem separação, sem mágoa, sem dor, e muito menos ponto final.
Ela percebe que está ficando tarde, ao ver que a lua está alta no céu, cada vez mais iluminada e esplendorosa. Suspira fundo e adentra novamente. Observa uma última vez a lua e imagina se em algum lugar no mundo, mais alguém estaria fazendo o mesmo. Talvez ele, depois de tanto tempo ainda pode existir sentimento. Ela sabe que o marcou, assim como ele a ela.
Escrever tornou-se uma fuga, pois ao escrever o alívio vem e o peito respira altivo pronto para enfrentar a vida e o que advém junto com ela. Ela coloca a cabeça no travesseiro, sentindo os olhos inchados de tanto chorar e surge em meio as lágrimas um sorriso. Um sorriso de esperança, de amor, de acalento, de descanso... E, por fim, adormece nos braços da saudade, sonhando com seu eterno príncipe encantado!

Afinal, ela sabe que em algum lugar ele também pensa nela, e por mais difícil que seja a vida, ela sabe que um dia já foi plena de felicidade. A esperança ressurge como a fênix, fazendo-a acreditar que outras luas cheias virão e que talvez tenha a sorte de reencontrá-lo numa noite dessas de verão. Assim, nessa quietude, adormece sob a luz intensa da última lua cheia do ano.