Eu por mim mesma!

Eu por mim mesma!
Voltei-me e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos valentes a peleja, nem tão pouco dos sábios o pão, nem ainda dos prudentes a riqueza, nem dos entendidos o favor, mas que o tempo e a sorte pertencem a todos. (Eclesiastes 9:11)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sem Faces, Sem Mas/Caras

O que fui?
O que sou?
O que ser?
Ce-cilia, sou ilha,
No arquipélago que é o mundo.
Sou unico, mas sou igual, um pouco de tudo.
Um pedacinho de cada um
Minha vida é um tangolomango
Mundo estranho, vasto mundo...
Roncador-Xingu,
Russia-Brasil,
Brasil-Brasil.
Modinha ou vaga canção?
Toquei violão e cantei em tupi
Acompanhado de reco-reco, atabaque e berimbau.
Cri cri cri... Blu blu blu...
Entre cedros e ramos
Cor-tei flores-tas e rios
Cheguei à tribo dos caetés
Encontrei Macunaima
E na ilusão de encontrar Muiraquitã
Descobri o amor
Novamente resplandece
A alegria, o sonho, a coragem.
Uai sô, que trem bão!
Cheiro de mato, carnaval dos animais.
Tudo em duas almas
O amor se fez... desfez.
Na sinagoga de Matosinho
Briguei pela imagem de Maria Madalena
Caiu minha mascara
Mascara verde-amarela
Pintada com tinta guache
E garapa vermelha
Que descia da bica
Das engrenagens de São Bernardo
Para adoçar Cabral
E confeitar o Pão-de-Açucar
Conheci Madon'na na ultima ceia
Bebendo hamburger e comendo coca-cola
Brasil mesclado/mascarado
Cada um com seu modo de falar
Isso não importa nem precisa mudar
Oxente! Êta povo arretado!
é crack daqui e Pelé d'Ali
Pra salva/dor tem procissão... tem romaria
Na quaresma o triste fim
Braços abertos na cruz
- Pai, tem compaixão de mim
Desse teu filho Messias-Salvador
Sincretizado com imenso amor
Do romanceiro barroco, poeta se fez Madalena
Esculpi com pedra sabão e sangue
Escorrido das mãos calejadas
A imagem do Cristo Redentor do Nordeste
De Noéis esperançosos
De Delfinos arrependidos
De Polinorios despertos
De muitas vidas-secas
Criaturas vivas-mortas
Os famélicos da terra
A gritarem com angustia
Mim fragil, mim fragil.
Fiquei mudo, fiquei Callado,
Diante da Xingu urbanizada
Das sombrinhas de Olinda
E da passarela da Sapucai.
Graciliando pelos sonhos
Majestade ja fui.
Não quero razão. Ja tenho ideal.
Aprendizes somos quando (com)vivemos e (nus)como-vemos
Êta sô! Que alegria!
é bão por demais
Um chamego da mãe gentil no seio acolhedor
Pintar a cara com a Aquarela do Brasil
Com a Ordem e o Progresso
Com um sonho intenso... e um raio vivido!
Enfim...
O que sou? O que vô sê?
Ora sou Polinorio, ora sou Noel-Delfino,
Ora Marta da Conceição, ora Madolena,
Ora cristão-judeu, ora Era Vargas,
Ora o mundo... Ora eu...
Depende do momento...
                                          De
                                            p
                                            e
                                            n
                                            de...
                                               e...

Denise/2001.

(POESIA CLASSIFICADA EM 12° LUGAR NO PRÊMIO NACIONAL DE LITERATURA NESTLE/2001)

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